domingo, 29 de abril de 2012

Viver é desenhar sem borracha. Millôr Fernandes






Homenagem




Morre, aos 88 anos, o mestre do humor Millôr Fernandes


     Morreu na noite desta terça-feira (27), aos 88 anos, o escritor Millôr Fernandes. Humorista, dramaturgo, desenhista, poeta e jornalista, ele faleceu em sua casa, no Rio de Janeiro, em decorrência de falência múltipla de órgãos. O velório será realizado até as 15h desta quinta-feira (29), no Rio, quando o corpo seguirá para cremação. As informações são do cemitério Memorial do Carmo. 
     Em fevereiro de 2011, o humorista sofreu um AVC isquêmico e recebia tratamento em casa, quando teve que retornar ao hospital, no final de junho, por causa de uma pneumonia.
     Nascido no bairro carioca do Méier, em 16 de agosto de 1923, Millôr foi registrado oficialmente em 27 de maio de 1924. Com um ano, ficou órfão de pai e, aos 10 anos, de mãe. Ao longo da vida, se firmou como um dos mais importantes e atuantes intelectuais brasileiros. Adaptou e escreveu obras para teatro e para televisão, além de ter imortalizado diversas frases e aforismos.

 

Millôr Fernandes. De A a Z.



POEMA MATEMATICO - MILLÔR FERNANDES




     "Millôr Fernandes nasceu. Todo o seu aprendizado, desde a mais remota infância. Só aos 13 anos de idade, partindo de onde estava. E também mais tarde, já homem formado. No jornalismo e nas artes gráficas, especialmente. Sempre, porém, recusou-se, ou como se diz por aí. Contudo, no campo teatral, tanto então quanto agora. Sem a menor sombra de dúvida. Em todos seus livros publicados vê-se a mesma tendência. Nunca, porém diante de reprimidos. De 78 a 89, janeiro a fevereiro. De frente ou de perfil, como percebeu assim que terminou seu curso secundário. Quando o conheceu em Lisboa, o ditador Salazar, o que não significa absolutamente nada. Um dia, depois de um longo programa de televisão, foi exatamente o contrário. Amigos e mesmo pessoas remotamente interessadas - sem temor nenhum. Onde e como, mas talvez, talvez — Millôr, porém, nunca. Isso para não falar em termos públicos. Mas, ao ser premiado, disse logo bem alto - e realmente não falou em vão. Entre todos os tradutores brasileiros. Como ninguém ignora. De resto, sempre, até o Dia a Dia”.

Melhores frases de Miloôr Fernandes:

38 Máximas de Millôr Fernandes



Todo homem nasce original e morre plágio.
Não adianta prever males futuros. Batatas apodrecem.
O aumento da canalhice é o resultado da má distribuição de renda.
Internet. Aberta pro mundo, alheia ao que a faz.
Pra acabar com o desemprego, o Planalto tem que, primeiro, acabar com o desentrabalho.
Fiquem tranquilos os poderosos que têm medo de nós: nenhum humorista atira pra matar.
Claro, sabemos muito bem que VOCÊ, aí de cima, não tem mais como evitar o nascimento e a morte. Mas não pode, pelo menos, melhorar um pouco o intervalo?
A diferença entre existir e viver é de dez salário mínimos.
Celebridade é um idiota qualquer que apareceu no Faustão.
As mulheres são mais irritáveis porque os homens são mais irritantes.
Melhor do que dar ao companheiro um peixe é lhe dar um caniço e ensiná-lo a usar o cartão corporativo.
E no oitavo dia Deus fez o Milagre Brasileiro: um país todo de jogadores e técnicos de futebol.
O cadáver é que é o produto final. Nós somos apenas a matéria prima.
Mordomia é ter tudo que o dinheiro - do contribuinte - pode comprar.
“Pérolas aos porcos” é expressão depreciativa. Exceto no Planalto, onde os porcos adoram pérolas.
O homem é o único animal que ri. E é rindo que ele mostra o animal que é.
Baiano só tem pânico no dia seguinte.
A curiosidade mórbida é a mãe do vidro fumê.
Ontem, ontem tinha agá, hoje não tem. Hoje ontem tinha agá e hoje, como ontem, também tem.
Às vezes você está discutindo com um imbecil... e ele também.
Quando acabarmos de comer o queijo vamos distribuir ao povo todos os buracos.
O progresso era maravilhoso quando não progredia tanto.
Tua mulher está sempre fora de si? Não deixa ela voltar.



Haikai - Millor Fernandes (A Lua)







Charge
Saiba o que é charge, temas abordados, charges pela internet, caricaturas, arte.
Definição

A charge é um desenho ou uma pequena história em quadrinhos que possui um caráter humorístico e crítico. Destacam-se pela criatividade e abordagem de temas da atualidade. Os personagens geralmente são desenhados seguindo o estilo de caricaturas.

As charges são elaboradas por desenhistas e podem retratar diversos temas como, por exemplo, assuntos cotidianos, política, futebol, economia, ciência, relacionamentos, artes, consumo, etc.

As charges costumam ser publicadas em jornais, revistas, livros, etc. Com o desenvolvimento da Internet, apareceram vários sites especializados em apresentar charges animadas elaboradas em linguagem flash.

    Mais definições...
    Charge é um estilo de ilustração que tem por finalidade satirizar, por meio de uma caricatura, algum acontecimento atual com um ou mais personagens envolvidos. A palavra é de origem francesa e significa carga, ou seja, exagera traços do caráter de alguém ou de algo para torná-lo burlesco. Muito utilizadas em críticas políticas no Brasil. Apesar de ser confundido com cartoon(ou cartum), que é uma palavra de origem inglesa, ao contrário da charge, que sempre é uma crítica contundente ligada a temporalidade, o cartoon retrata situações mais corriqueiras do dia a dia da sociedade. Mais do que um simples desenho, a charge é uma crítica político-social onde o artista expressa graficamente sua visão sobre determinadas situações cotidianas através do humor e da sátira. Para entender uma charge, não é preciso ser necessariamente uma pessoa culta, basta estar por dentro do que acontece ao seu redor. A charge tem um alcance maior do que um editorial, por exemplo, por isso a charge, como desenho crítico, é temida pelos poderosos. Não é à toa que quando se estabelece censura em algum país, a charge é o primeiro alvo dos censores infra.
     O termo charge vem do francês charger que significa carga, exagero ou, até mesmo ataque violento (carga de cavalaria). Isto significa aqui uma representação pictográfica de caráter, como diz no primeiro parágrafo, burlesco e de caricaturas. É um cartum que satiriza um certo fato, como idéia, acontecimento, situação ou pessoa, envolvendo principalmente casos de caráter político que seja de conhecimento do público.
As charges foram criadas no princípio do século XIX (dezenove), por pessoas opostas a governos ou críticos políticos que queriam se expressar de forma jamais apresentada, inusitada. Foram reprimidos por governos (principalmente impérios), porém ganharam grande popularidade com a população, fato que acarretou sua existência até os tempos de hoje.

Fábula de Millôr Fernandes - O leão, o burro e o rato



Parcialmente baseado no livro "A verdadeira história do paraíso" de Millôr Fernandes.


Millôr Fernandes - poeminha neurótico



Nesta crônica de Millor Fernandes você tem duas opções: rir ou refletir.

O piquenique das tartarugas

   Uma família de tartarugas decidiu sair para um piquenique.

   As tartarugas, sendo naturalmente lentas, levaram 7 anos preparando-se para o passeio.

   Passados 6 meses, após acharem o lugar ideal,

ao desembalarem a cesta de piquenique descobriram que estavam sem sal.

    Então, designaram a tartaruga mais nova para voltar para casa e pegar o sal, por ser a mais rápida.

    A pequena tartaruga lamentou, chorou e esperneou, mas concordou em ir com uma condição:

que ninguém comeria até que ela retornasse.

    Três anos se passaram... Seis anos... E a pequenina não tinha retornado.

    Ao sétimo ano de sua ausência, a tartaruga mais velha já não suportando mais a fome,

decidiu desembalar um sanduíche.

    Nesta hora, a pequena tartaruga saiu de trás de uma árvore e gritou:

    - Viu! Eu sabia que vocês não iam me esperar. Agora que eu não vou mesmo buscar o sal.



    Pense bem! Algumas vezes em nossa vida as coisas acontecem da mesma forma.

     Desperdiçamos nosso tempo esperando que as pessoas vivam à altura de nossas expectativas.

     Ficamos tão preocupados com o que os outros estão fazendo que deixamos de fazer o que nos compete.



Como disse Mário Quintana: O pior dos problemas da gente é que ninguém tem nada com isso.

    Por isso, vivamos nossa vida e deixe de se preocupar com a opinião e o interesse dos outros por nós.



    Não venci todas as vezes que lutei, mas perdi todas as vezes que deixei de lutar!


CrônicaAlfredina Nery*Especial para a Página 3 - Pedagogia e ComunicaçãoAssim como a fábula e o enigma, a crônica é um gênero narrativo. Como diz a origem da palavra (Cronos é o deus grego do tempo), narra fatos históricos em ordem cronológica, ou trata de temas da atualidade. Mas não é só isso. Lendo esse texto, você conhecerá as principais características da crônica, técnicas de sua redação e terá exemplos.Uma das mais famosas crônicas da história da literatura luso-brasileira corresponde à definição de crônica como "narração histórica". É a "Carta de Achamento do Brasil", de Pero Vaz de Caminha, na qual são narrados ao rei português, D. Manuel, o descobrimento do Brasil e como foram os primeiros dias que os marinheiros portugueses passaram aqui. Mas trataremos, sobretudo, da crônica como gênero que comenta assuntos do dia a dia. Para começar, uma crônica sobre a crônica, de Machado de Assis: 
O nascimento da crônica
“Há um meio certo de começar a crônica por uma trivialidade. É dizer: Que calor! Que desenfreado calor! Diz-se isto, agitando as pontas do lenço, bufando como um touro, ou simplesmente sacudindo a sobrecasaca. Resvala-se do calor aos fenômenos atmosféricos, fazem-se algumas conjeturas acerca do sol e da lua, outras sobre a febre amarela, manda-se um suspiro a Petrópolis, e la glace est rompue está começada a crônica. (...)

(Machado de Assis. "Crônicas Escolhidas". São Paulo: Editora Ática, 1994)Publicada em jornal ou revista onde é publicada, destina-se à leitura diária ou semanal e trata de acontecimentos cotidianos.A crônica se diferencia no jornal por não buscar exatidão da informação. Diferente da notícia, que procura relatar os fatos que acontecem, a crônica os analisa, dá-lhes um colorido emocional, mostrando aos olhos do leitor uma situação comum, vista por outro ângulo, singular.O leitor pressuposto da crônica é urbano e, em princípio, um leitor de jornal ou de revista. A preocupação com esse leitor é que faz com que, dentre os assuntos tratados, o cronista dê maior atenção aos problemas do modo de vida urbano, do mundo contemporâneo, dos pequenos acontecimentos do dia a dia comuns nas grandes cidades.Jornalismo e literaturaÉ assim que podemos dizer que a crônica é uma mistura de jornalismo e literatura. De um recebe a observação atenta da realidade cotidiana e do outro, a construção da linguagem, o jogo verbal. Algumas crônicas são editadas em livro, para garantir sua durabilidade no tempo.Leia a seguir uma crônica de um dos maiores cronistas brasileiros: 
Recado ao Senhor 903

“Vizinho,

Quem fala aqui é o homem do 1003. Recebi outro dia, consternado, a visita do zelador, que me mostrou a carta em que o senhor reclamava contra o barulho em meu apartamento. Recebi depois a sua própria visita pessoal – devia ser meia-noite – e a sua veemente reclamação verbal. Devo dizer que estou desolado com tudo isso, e lhe dou inteira razão. O regulamento do prédio é explícito e, se não o fosse, o senhor ainda teria ao seu lado a Lei e a Polícia. Quem trabalha o dia inteiro tem direito a repouso noturno e é impossível repousar no 903 quando há vozes, passos e músicas no 1003. Ou melhor; é impossível ao 903 dormir quando o 1003 se agita; pois como não sei o seu nome nem o senhor sabe o meu, ficamos reduzidos a ser dois números, dois números empilhados entre dezenas de outros. Eu, 1003, me limito a Leste pelo 1005, a Oeste pelo 1001, ao Sul pelo Oceano Atlântico, ao Norte pelo 1004, ao alto pelo 1103 e embaixo pelo 903 – que é o senhor. Todos esses números são comportados e silenciosos: apenas eu e o Oceano Atlântico fazemos algum ruído e funcionamos fora dos horários civis; nós dois apenas nos agitamos e bramimos ao sabor da maré, dos ventos e da lua. Prometo sinceramente adotar, depois das 22 horas, de hoje em diante, um comportamento de manso lago azul. Prometo. Quem vier à minha casa (perdão: ao meu número) será convidado a se retirar às 21h45, e explicarei: o 903 precisa repousar das 22 às 7 pois as 8h15 deve deixar o 783 para tomar o 109 que o levará ate o 527 de outra rua, onde ele trabalha na sala 305. Nossa vida, vizinho, está toda numerada: e reconheço que ela só pode ser tolerável quando um número não incomoda outro número, mas o respeita, ficando dentro dos limites de seus algarismos. Peço-lhe desculpas – e prometo silêncio.
[...] Mas que me seja permitido sonhar com outra vida e outro mundo, em que um homem batesse à porta do outro e dissesse: ‘Vizinho, são três horas da manhã e ouvi música em tua casa. Aqui estou’. E o outro respondesse: ‘Entra vizinho e come do meu pão e bebe do meu vinho. Aqui estamos todos a bailar e a cantar, pois descobrimos que a vida é curta e a lua é bela’.
E o homem trouxesse sua mulher, e os dois ficassem entre os amigos e amigas do vizinho entoando canções para agradecer a Deus o brilho das estrelas e o murmúrio da brisa nas árvores, e o dom da vida, e a amizade entre os humanos, e o amor e a paz.”

(Rubem Braga. "Para gostar de ler". São Paulo: Ática, 1991)Fato corriqueiro...Há na crônica uma série de eventos aparentemente banais, que ganham outra "dimensão" graças ao olhar subjetivo do autor. O leitor acompanha o acontecimento, como uma testemunha guiada pelo olhar do cronista que tem a pretensão de registrar de maneira pessoal o acontecimento. O autor dá a um fato corriqueiro uma perspectiva, que o transforma em fato singular e único.No caso da crônica "Recado ao Senhor 903", há uma crítica à desumanização na cidade grande, na qual somos, muitas vezes, apenas números e não pessoas. O surpreendente é a inversão proposta pelo narrador ao final da crônica: no lugar da intolerância, tão comum nas cidades grandes, ele propõe um possível acolhimento amigo.Outro aspecto é que as personagens das crônicas não têm descrição psicológica profunda, pois, são caracterizadas por uma ou duas características centrais, suficientes para compor traços genéricos, com os quais uma pessoa comum pode se identificar. Em geral, as personagens não têm nomes: é a moça, o menino, a velha, o senador, a mulher, a dona de casa. Ou têm nomes comuns: dona Nena, seu Chiquinho, etc... Análise da linguagem1) Intenção e linguagemO narrador-personagem da crônica (ou remetente da carta ao vizinho) reconhece que faz barulho e por isto pede desculpas. Veja, assim, as palavras e afirmações que usou para construir essa ideia: "consternado", "desolado", "lhe dou inteira razão", "O regulamento do prédio é explícito", "Quem trabalha o dia inteiro tem direito ao repouso", "Peço desculpas", "Prometo silêncio". No entanto, através de ironias, o narrador reconhece sua falta, mas explicita que não concorda com a situação, uma vez que a aborda também de outro ângulo, problematizando as relações entre as pessoas e não simplesmente aceitando a situação como algo imutável. E faz isso, especialmente, quando:
  • ironiza a estruturas dos prédios em que as pessoas ficam empilhadas, perdendo o contato humano; 
  • refere-se a todos os vizinhos, incluindo ele próprio, pelo número do apartamento e não pelo nome; 
  • critica o isolamento e a distância entre as pessoas cujas vidas estão limitadas pelas normas que cerceiam o convívio humano; 
  • sonha com outra relação mais humana e fraterna, entre as pessoas. 
  • 2) Ironia e humora) Veja como o narrador usa uma fina ironia quando fala de si mesmo e dos motivos das reclamações do vizinho: "Todos esses números são comportados e silenciosos: apenas eu e o Oceano Atlântico fazemos algum ruído e funcionamos fora dos horários civis; nós dois apenas nos agitamos e bramimos ao sabor da maré, dos ventos e da lua." Verifique ainda como o uso do elemento "apenas", usado duas vezes intensifica a sua exclusão em relação aos demais moradores do prédio. b) O excesso de referência a números acaba por criar um efeito de humor e crítica social: "Prometo sinceramente adotar, depois das 22 horas, de hoje em diante, um comportamento de manso lago azul. Prometo. Quem vier à minha casa (perdão: ao meu número) será convidado a se retirar às 21h 45, e explicarei: o 903 precisa repousar das 22 às 7 pois as 8h 15 deve deixar o 783 para tomar o 109 que o levará ate o 527 de outra rua, onde ele trabalha na sala 305." Enfim, o efeito de humor tem a ver com: 
  • o contraste entre uma situação e outra: os que mantêm silêncio e pessoas, como o narrador, que não o fazem; 
  • o inesperado: o texto parece se encaminhar para um sentido e bruscamente aponta para outro. 
  • 3)Uso de verboQuando o narrador quer sonhar com uma outra situação em relação, não só à sua vizinhança, mas também à vida na cidade grande, veja que ele constrói essa ideia usando verbos no pretérito imperfeito do subjuntivo, o que indica possibilidade/desejo/hipótese: "Mas que me seja permitido sonhar com outra vida e outro mundo, em que um homem batesse à porta do outro e dissesse: 'Vizinho, são três horas da manhã e ouvi música em tua casa. Aqui estou'. E o outro respondesse: 'Entra vizinho e come do meu pão e bebe do meu vinho. Aqui estamos todos a bailar e a cantar, pois descobrimos que a vida é curta e a lua é bela'. E o homem trouxesse sua mulher, e os dois ficassem entre os amigos e amigas do vizinho entoando canções para agradecer a Deus o brilho das estrelas e o murmúrio da brisa nas árvores, e o dom da vida, e a amizade entre os humanos, e o amor e a paz. 4)Uso dos artigosReleia os trechos: a) "Quem fala aqui é o homem do 1003.". Foi usado o artigo definido ( o ), quando o narrador refere-se a si mesmo, particularizando, dessa forma, um indivíduo, entre outros. b) "Mas que me seja permitido sonhar com outra vida e outro mundo, em queum homem batesse à porta do outro e dissesse (...). E o outro respondesse (...)"Há artigo indefinido ("um homem"), quando foi introduzido um elemento ainda não citado no texto, generalizando-o. Há artigo definido ("o outro"), quando novamente se tem um indivíduo já citado, particularizando-o. Veja que essas escolhas linguísticas vão constituindo a ligação/coesão entre as partes do texto, de tal maneira que, mais do que saber o nome das classes da gramática - substantivos, adjetivos, artigos, advérbios, verbo, conjunção, pronome, preposição, numeral - é importante saber suas articulações na construção dos sentidos de um texto. Características das crônicas
  • A crônica é um texto narrativo que: 
  • É, em geral, curto; 
  • Trata de problemas do cotidiano; assuntos comuns, do dia a dia; 
  • Traz as pessoas comuns como personagens, sem nome ou com nomes genéricos. As personagens não têm aprofundamento psicológico; são apresentadas em traços rápidos; 
  • É organizado em torno de um único núcleo, um único problema; 
  • Tem como objetivo envolver, emocionar o leitor.
  • Gênero entre jornalismo e literatura
  •  

    Cora Coralina
    Millôr Fernandes      
    O Mundo Visto Daqui (Desiderata, 2010, 224 págs.) reúne textos e desenhos publicados na imprensa entre 1980 e 1983. Como eu já desconfiava, o mundo visto de lá (da Praça General Osório, em Ipanema) não é tão róseo como muita gente quer (ou precisa) ver. E acredite: a burocracia, a violência, a corrupção e a bestialidade humana, vigentes em 1980, continuam intocadas em 2010. Em seu humor — ora agridoce, ora ácido —, Millôr tempera (às vezes apimenta) as palavras com metáforas e ironias e nada parece escapar de seu olhar mordaz. A sociedade, a censura, a publicidade, os economistas, os “psicanalhistas”, os políticos, a imprensa, o “socialismo de direita” — e todos os questionamentos são de uma atualidade assombrosa. Até com o politicamente correto, que ainda nem estava em voga, Millôr já parecia prenunciar o nosso atual “istatusquó”, onde as patrulhas nos vigiam diariamente.


        A abertura política da época proporcionou um leque maior de piadas com poderosos, e foi a oportunidade perfeita para fustigar o então presidente João Batista Figueiredo (que, segundo Millôr, passou a ser chamado simplesmente de “João” depois que chegou ao poder). Com o regime militar já cambaleante, o Brasil renovava as suas utopias e se preparava para a luta democrática, que resultaria nas “Diretas Já”, quatro anos depois. Mas Millôr já desconfiava de toda aquela euforia e parecia antecipar seus desdobramentos (inclusive o ponto em que estamos hoje): “Ontem era fácil. Todos combatíamos o nazismo. Ou apoiávamos o Vietnã. Mas, hoje, quem é o inimigo comum? A direita malsã e selvagem? Mas não é ela que nos ‘salva’ do comunismo materialista e, pior!, dialético?”. Numa época em que o maniqueísmo (ou qualquer outro “ismo”) ainda explicava o mundo, Millôr descolava seu pensamento do da turma do Pasquim, negando a história (“nossa história é um istória”) e mostrando uma impressionante capacidade de antever todas as coisas que hoje nos parecem óbvias, mas que só ele enxergou na época.
        São muitas as alcunhas que o “Guru do Méier” ganhou ao longo da sua estrada. Eu o chamei de “Gênio do Caos” há não muito tempo atrás. Em seu “sáite” ele se apresenta como um “escritor sem estilo”, mas no livro se define apenas como um cético: “é, um cético. Isso quer dizer um homem de profundas e variadas crenças que, porém, nunca estão colocadas numa sigla, numa fé institucionalizada e politizada, num grupo e, sobretudo, numa pessoa”.
         Num momento em que se iniciam os debates eleitorais e despontam novos candidatos a salvador da pátria, ler Millôr vai te fazer desconfiar desses candidatos botocados e embalados para o consumo. Mais do que isso: vai te tirar de suas verdades absolutas e libertar seu pensamento. Se o Brasil precisa de mais ceticismo (e eu acredito que precisa), O Mundo Visto Daqui é leitura indispensável.



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